quarta-feira, 11 de julho de 2012

Tertúlia (des) industrialização e emprego

Teve lugar no dia 06-06-2012 o 5º jantar do CRP Leiria Socialista. Desta vez o tema foi a desindustrialização e a sua relação com a falta de emprego em muitos países do ocidente.
Este é um tema que me suscita tanto de interesse como de preocupação. Há já vários anos me venho interrogando como é que um determinado país ou região económica pode ser sustentável a longo prazo sem produção, isto é, sem ser capaz de produzir aproximadamente aquilo que consome. Não se confunda isto com a retórica muito neo-centrista portuguesa que temos é que apostar na agricultura para produzirmos os cereais que necessitamos. Não é a isso que me refiro (não excluindo a importância que o sector primário tem). Preocupa-me que na economia global e na região económica que somos parte integrante, só poderemos garantir os padrões que defendemos se mantivermos algum equilíbrio entre o que consumimos e o que produzimos.
Está em curso, há já pelo menos 3 décadas, um largo processo de terciarização da economia do ocidente, acompanhado de um processo de desindustrialização: mudança social e económica causada pela redução da capacidade industrial. Esta capacidade industrial, que permitiu ao ocidente alavancar a sua economia e o seu modelo social, está a ser substituída por uma economia de serviços.
Este processo está em curso devido às “grandes” decisões políticas que foram sendo tomadas ao longo destes anos, sustentadas por uma globalização rápida e sem regras. Foi vigente um pensamento, em parte ideológico, que o ocidente passaria bem sem produção industrial em massa, que bastar-nos-ia os anos de desenvolvimento tecnológico e social já alcançado para estarmos sempre no topo da cadeia. Que o I&D em áreas chave traria emprego e riqueza aos jovens licenciados e cultos, filhos de uma classe média maioritária. É hoje claro que essa história não foi bem contada. Que o ocidente não pode apenas consumir o que alguém produz. É simples. As divisas seguem um percurso: do sector terciário para o secundário e para o primário.
As empresas ocidentais têm que concorrer contra outras, em países sem nenhum tipo de regras sociais e humanas, contra o desrespeito pela propriedade intelectual, por ausência de regras ambientais, com menores custos energéticos e com mão-de-obra barata. É lógico que esses países têm um caminho a percorrer, faz parte do seu processo de desenvolvimento interno. O que não podemos é permitir que esse ajustamento arrase por completo o nosso modelo. (Há ainda um outro grande ajustamento em curso que não posso deixar de referir. Um ajustamento global ao aparecimento de biliões de novos consumidores. Este é outro problema paralelo à desindustrialização).
Quando me pergunto porque é que o ocidente, que já teve na sua mão o poder industrial e económico, juntamente com o poder estratégico e político, deixaria que este lhe escapasse por entre os dedos. Para mim a resposta é clara. O “fazer” foi preterido pelo “vender”. É obvio que vender é muito mais agradável que fazer. Vender é muito mais rentável que fazer. O ambiente industrial é muito mais árido que o comercial. Eu, que sou um entusiasta pela indústria, consigo entender que a sociedade tenda a preferir o sector terciário. Cabe aos decisores garantir e zelar por uma economia sustentável. Eu tenho a forte convicção que isso apenas é possível com uma indústria competitiva.
Vale a pena meditar sobre a razão pela qual a região de Leiria/Marinha Grande não está a sofrer tão drasticamente os efeitos da crise portuguesa como o resto do país. Vivemos numa região que apostou na indústria transformadora como modelo económico e que consegue competir, apesar das dificuldades, tanto contra países emergentes, como contra países mais desenvolvidos.
Muito há a dizer e a reflectir sobre este assunto e, ou muito me engano, ele andará na ordem do dia dentro de alguns anos.

Tiago Santos
Eng.º Mecânico